Abrem-se as cortinas. Não dá certo. Nunca deu certo, a gente
só fingiu. Atuar me cansa, tu bem sabes.
Não dá mais pra atuar, o palco nunca me pertenceu. A minha alma nunca se adaptou às falas, ao
roteiro. Minha alma nunca foi vestida, um tanto pessoano, eu sei, mas os atos
me cansam. A minha voz saía atordoada,
às avessas, era pra dizer “eu te odeio”, mas as cordas vocais são teimosas,
insistem em gritar ao público “eu te amo”.
Fecham-se as cortinas. Saem roteiristas, figurinistas,
artistas. Saiu até tu, ou eu, não sei ao certo, nós, qualquer pronome reto que
te agrade. Saiu alguém também. Ficou somente eu. E a luz do palco, apenas uma,
pra eu me orientar. Vou em frente e digo: Fim do Ato. Apagam-se as luzes. O
público sai.
O teatral me assusta às vezes.
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