domingo, 6 de abril de 2014

Nós em cada lugar

Não lembro nitidamente que dia te conheci, lembro que estava muito escuro para um museu.
Ah, lembrei!
Estava mais escuro pois era de noite, e como tinha poucas pessoas eles diminuíram as luzes.
Juro que tento puxar com a maior força que meu corpo dispõe, mas não consigo lembrar que quadro eu "olhava". Entre as mais cínicas aspas. Eu olhava era mesmo para o tresloucado que falava sozinho perante ao quadro. Depois percebi que ele falava era com o quadro. Três ou quatro passos eram o que nos separava. Ele estacou. Fez-se um silêncio. Percebi que agora quem olhava era ele. E não mais para o quadro, mas para mim.

Ele abriu a boca na falha tentativa de balbuciar alguma coisa. Mas não conseguiu emitir nenhum som.

Nesse instante eu disse olhando fixamente pr'queles olhos cor de mel:

"Você não sabe, mas eu estava exatamente aqui, olhando pra você..."

 Ele se aproximou e pode parecer o auge do clichê cinematográfico: mas sim, deu choque.

 Essa é a coisa que talvez eu mais lembre com nitidez: que no primeiro toque deu choque.

Depois disso, tudo é um embaraço nebuloso na minha cabeça, não lembro quem começou a puxar assunto, ou quem riu tão alto que alguém teve que fazer "shhhh". E eis a última vez coisa que eu lembro que eu tenha dito:

"Vamos embora?"

"Vamos, mas o que a gente vai fazer?"

"Não sei, a gente pode tomar alguma coisa"

"Não, eu tô falando o que que a gente vai deixar aqui"

"Ãhn?"

"Meu pai me ensinou que a gente têm de deixar um pouco da gente em cada lugar"


E nos beijamos num rápido instante só para o segurança não nos encher o saco de novo. E até hoje, a gente deixa algo nos lugares que a gente passa.