Não lembro nitidamente que dia te conheci, lembro que estava muito escuro para um museu.
Ah, lembrei!
Estava mais escuro pois era de noite, e como tinha poucas pessoas eles diminuíram as luzes.
Juro que tento puxar com a maior força que meu corpo dispõe, mas não consigo lembrar que quadro eu "olhava". Entre as mais cínicas aspas. Eu olhava era mesmo para o tresloucado que falava sozinho perante ao quadro. Depois percebi que ele falava era com o quadro. Três ou quatro passos eram o que nos separava. Ele estacou. Fez-se um silêncio. Percebi que agora quem olhava era ele. E não mais para o quadro, mas para mim.
Ele abriu a boca na falha tentativa de balbuciar alguma coisa. Mas não conseguiu emitir nenhum som.
Nesse instante eu disse olhando fixamente pr'queles olhos cor de mel:
"Você não sabe, mas eu estava exatamente aqui, olhando pra você..."
Ele se aproximou e pode parecer o auge do clichê cinematográfico: mas sim, deu choque.
Essa é a coisa que talvez eu mais lembre com nitidez: que no primeiro toque deu choque.
Depois disso, tudo é um embaraço nebuloso na minha cabeça, não lembro quem começou a puxar assunto, ou quem riu tão alto que alguém teve que fazer "shhhh". E eis a última vez coisa que eu lembro que eu tenha dito:
"Vamos embora?"
"Vamos, mas o que a gente vai fazer?"
"Não sei, a gente pode tomar alguma coisa"
"Não, eu tô falando o que que a gente vai deixar aqui"
"Ãhn?"
"Meu pai me ensinou que a gente têm de deixar um pouco da gente em cada lugar"
E nos beijamos num rápido instante só para o segurança não nos encher o saco de novo. E até hoje, a gente deixa algo nos lugares que a gente passa.