sábado, 22 de fevereiro de 2014

Fala pra ela do café e de mim

O apartamento cheirava a café, bem dizer. Era colocar o pé pra dentro que o aroma vinha, assim, sem pedir licença, sem sequer falar “gostaria de um cheirinho de café?”. Era engraçado, porque a maioria das pessoas perguntam: “quer um cafezinho?”. Lá não, ele me dizia com aquele olhar buarquíssimo: “quer um café de verdade?”. Respondia na maioria das vezes que já estava servida com aquele aroma divino, mas que aceitaria um café de verdade mais tarde. Engraçado como pode um bule inteiro derramado certa vez no carpete, diga-se de passagem, derramado por mim, continuar a cheirar por meses depois, a café. E, foi numa dessas tardes de domingo, depois da Redenção, que nós voltamos pra casa e estava na hora de um bom café com biscoitinhos de canela, foi numa dessas tardes assim que decidimos morar juntos. A partir daquele dia percebi, céus, eu estava indo morar no apartamento que cheirava a café. No meu apartamento que cheirava a café. No nosso. Terminei dizendo que buscaria umas coisas importantes pra trazer pro nosso novo cantinho e que voltaria depois. Claro, não pude me despedir sem deixar de dizer: tem certeza disso? Olha, Rodrigo, que se um dia a gente terminar, tu nunca vai esquecer de uma coisa: da guria que deixou cair o café.