segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Um Certo e Agora, Rodrigo?

E agora, Capitão?
O baile acabou,
A chama apagou,
A gurizada sumiu,
A noite esfriou,
E agora, Capitão?
E agora, tu?
Tu que é sem sobrenome,
Que atazana os outros,
Tu que faz guerras,
Que clama, protesta?
E agora, Cambará?

Está sem prenda,
Está sem cavalo,
Está sem carícia,
Já não pode beber,
Já não pode fumar,
Jogar já não pode,
A noite esfriou,
A aurora não veio,
O tempo não veio,
A gargalhada não veio,
Não veio a quimera,
E tudo acabou,
E tudo passou,
E tudo ventou,
E agora, Rodrigo?
E agora, Rodrigo?

Sua doce pronúncia,
Seu instante de cólera,
Sua sofreguidão e jejum,
Sua medalha,
Sua cavalaria,
Seu traje impecável,
Sua vaidade,
Seu rancor - e agora?

Com a espada na mão,
Quer matar o algoz,
Não existe algoz;
Quer morrer na guerra,
Mas a guerra acabou;
Quer ir para Santa Fé,
Fé não há mais,
Capitão, e agora?

Se tu berrasse,
Se tu lutasse,
Se tu tocasse
O hino rio grandense,
Se tu dormisse,
Se tu cansasse,
Se tu falecesse...
Mas tu não falece,
Tu é forte, Rodrigo!

Sozinho na escuridão
Qual quero-quero no campo,
Sem cobardia,
Sem alvenaria
Para se encostar,
Sem cavalo crioulo
Que fuja a galope,
Tu marcha, Capitão!
Capitão, para onde?

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Elena

Elena, sonhei com você essa noite
Você tava de vestido florido
Andando nas ruas de Nova York.

Procuro ficar perto
Te encostar
Te tocar
Te beijar.

As pessoas sempre me disseram que eu podia ser tudo
Menos ser atriz.
Que eu podia me parecer com qualquer pessoa
Menos contigo.
Queriam que eu te esquecesse, Elena.

Procuro você nas ruas de Nova York
Caminho agora ouvindo a sua voz
Me vejo tanto nas suas palavras...
E me perco.

Me perco em você, Elena.


A todos que estão se perguntando quem é a 'Elena', ou se ela existe, se tu queres conhecer Elena, não veja, tu não gostarias de conhecer a Elena: http://www.youtube.com/watch?v=04VkZNIy298

Obrigada à Petra, por ter apresentado essa Elena tão encantadora para o mundo.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Fim de Capítulo

Abrem-se as cortinas. Não dá certo. Nunca deu certo, a gente só fingiu. Atuar me cansa, tu bem sabes.  Não dá mais pra atuar, o palco nunca me pertenceu.  A minha alma nunca se adaptou às falas, ao roteiro. Minha alma nunca foi vestida, um tanto pessoano, eu sei, mas os atos me cansam.  A minha voz saía atordoada, às avessas, era pra dizer “eu te odeio”, mas as cordas vocais são teimosas, insistem em gritar ao público “eu te amo”.

Fecham-se as cortinas. Saem roteiristas, figurinistas, artistas. Saiu até tu, ou eu, não sei ao certo, nós, qualquer pronome reto que te agrade. Saiu alguém também. Ficou somente eu. E a luz do palco, apenas uma, pra eu me orientar. Vou em frente e digo: Fim do Ato. Apagam-se as luzes. O público sai.

O teatral me assusta às vezes.