quinta-feira, 15 de maio de 2014

No divã: Tarsila


- Oi, tudo bem, seu Otávio?

- Tudo sim, minha querida. Fica à vontade, o divã te espera.

Me sentei. Não contente, me deitei.

- Sabe, seu Otávio, eu não sei se cheguei a te falar dela...

- Da sua mãe ou da sua cachorra?

- Não, seu Otávio, não é nem a dona Liliane e nem a Lili.

- Então...?

- É dela, seu Otávio! Da Paula!

- Fale sobre ela.

- Ah, a Paula, seu Otávio... Se o senhor a conhecesse, se o senhor só a visse! A Paula é daquelas excêntricas, sabe seu Otávio? Ela sabe o que quer. O senhor acha que ela possa vir a me querer um dia, seu Otávio?

- Não conheço a Paula, minha querida, não posso responder por ela.

- Não seja por isso, seu Otávio! Vou te contar tudo sobre a Paula. A Paula tem 26 anos... Ou seria 25? Faz aniversário no outono, isso sei bem! Sabe como sei disso, seu Otávio? Foi no outono que a gente se conheceu. Tava esperando o ônibus e ela me aparece. Ah, seu Otávio, se o senhor visse! Ela até tinha tinta no cabelo!

- Ela tinha o quê, Tarsila?

- Tinha tinta no cabelo, seu Otávio! Não te falei que ela faz História da Arte? Fiquei sabendo depois que ela tinha tinta no cabelo, porque tinha acabado de pintar. Ah, seu Otávio, nunca vi alguém que pinte e conheça tão bem arte como ela! Ela é tão intensa, seu Otávio! Acho que por isso prefere Van Gogh a Gauguin. Ela é tal qual Van Gogh, vulnerável, mas intensa. Gauguin é tão arrogante, seu Otávio! A Paula que me disse, inclusive.

Seu Otávio agora não me olhava mais com aquele olhar tranquilo, como era de costume, mas com um olhar perplexo. Saberia ele sobre os negros de Gauguin, ou sobre as flores de Van Gogh, ou somente dos ensinamentos de Freud?

- Tarsila?

- Que foi, seu Otávio?

- Tu estavas falando sobre a Paula e se calou de repente.

- Ah é verdade... Então, seu Otávio, tu acha que ela possa vir a me querer?

- Desculpe, Tarsila, o horário da sua sessão já excedeu.

- Mas, seu Otávio... E a Paula?

- Ora, Tarsila, fale com a Paula!

- Ok, doutor, mais algum conselho?

- Marque a próxima sessão pra quinta feira, sim?

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Quintanar

O meu lugar em Porto Alegre, poderia ser a Tristeza, onde a minha avó morava, se ela estivesse aqui ainda, com certeza diria que esse é o meu lugar preferido em Porto Alegre, mas hoje, fazendo jus ao nome, visitar aquele bairro da zona Sul só me traz tristeza sem a presença dela.
Desde de 2009, meu lugar preferido automaticamente foi transferido para a Casa de Cultura Mario Quintana. Por vários motivos especiais.

A primeira vez que fui pra Porto Alegre (sem ser pra ir à casa da minha avó) visitei a CCMQ com o maior homem que tenho conhecimento até hoje: meu pai.

A primeira vez que ouvi uma canção de The Beatles foi na Casa de Cultura, "hello, goodbye" foi a primeira canção que a orquesta (que prestava homenagem aos The Beatles no dia) tocou e com certeza a música mais nostálgica pra mim.

A primeira vez que tomei café na Casa de Cultura foi com o maior guri que tenho conhecimento até hoje: meu amor.

Obrigada, Mario, por ser a minha fonte de inspiração quando abandono a prosa e atrevo-me a escrever poesia.

20 anos sem ti?
20 anos senti!