“O que eu tenho engasgado pra dizer, não cabe nem em cartaz
de cinema”
Foi o que eu pensei em dizer.
Todas as coisas que não foram
ditas mas deveriam, e todas aquelas que não deveriam também. Tudo o que eu não
te escrevi, Cecília.
Todas as notas que eu não toquei no cello eu pensei em ti,
em como tu falaria que tá absurdamente desafinado. Todas as vezes que eu deixei
de te tocar, de te puxar pra mim, como me arrependo, Cecília.
Dos teus pés no
chão, dançando sem música na ponta dos pés ao som de Belle and Sebastian,
rodopiando tão anti-bailarina, porque de leveza não tinha nada e tinhas medo de
acabar caindo, como queria ter te dito que ficas linda assim. Incrivelmente
bela.
Teus olhos verdes, como queria ter te falado como eles me devoram, como
eu os queria. Como amava tuas colagens, teus rabiscos nas paredes, tuas
anotações em quaisquer cantos, como queria que tu soubesses.
Pudera eu passar
pela última vez as mãos nos teus cachos em anéis, e me sentir a guria mais
sortuda do mundo. Quisera eu passar os dedos pelas dezenas de rabiscos
eternizados e espalhados em teu corpo.
Como eu não queria ter queimado todas as
nossas fotografias, porque eu queria te ver mais uma vez nessa agonia do
inferno que é não te ter mais.
Mas é tarde pra tudo isso, Cecília, todo carnaval tem seu
fim, afinal, tu partiste pra longe, e agora estou só, numa lápide fria com
tulipas amarelas murchas.
Ceci, me desculpa, acho que ficou maior que cartaz de
cinema.
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